quinta-feira, 18 de agosto de 2016

HOLY LAND 20 Anos

 O ano de 2016 marcou o aniversário de um dos meus discos de metal brasileiro favoritos, Holy Land, o segundo disco do Angra. A banda, surgida em 1992, pegou o embalo da vertente metal chamada Power Metal, um estilo mais acelerado e limpo de heavy metal, com vocais mais melódicos e mais agudos, algumas banda adotavam um tom mais épico em suas composições, outras, flertavam com toques de música clássica, dentre esses últimos, estava o Angra.

A época formado por Andre Matos, vocal, Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro, guitarras, Luis Mariutti, baixo e Ricardo Confessori, Baterias, a banda tinha acabada de encerrar a turnê de seu primeiro disco, Angels Cry. O primeiro disco, aliás, já foi por si só uma grande conquista da banda, power metal com toques de música clássica e que gerou o primeiro, e maior hino do Angra até hoje, Carry On.

Quando a banda começou a pensar em seu segundo disco, decidiram, ao invés de repetir a fórmula de seu primeiro disco, inovar mais dentro de seu som e buscaram, nas sonoridades regionais brasileira a inspiração para construir sua segunda obra. E o fizeram com sucesso, tendo em vista que ainda hoje, com oito discos na sua discografia, Holy Land continua sendo um dos grandes marcos da banda. Mas não vou me alongar na história do disco ou na sua importância no contexto do heavy metal nacional, essas informações podem ser encontradas facilmente na internet.

Holy Land não foi o primeiro disco que escutei do Angra, conheci a banda através do seu segundo disco ao vivo Rebirth Wolrd Tour de 2002, nessa época já havia ocorrido a cisão na banda, seu vocalista novo era Edu Falaschi, que possuí um estilo vocal bem diferente de seu predecessor Andre Matos. Ainda assim, era a primeira banda de heavy metal brasileira que eu conhecia, não demorou até que eu fosse atrás de sua história e descobrisse que aquela banda tivera uma formação diferente no passado. Ao pesquisar esse passado é claro que gostei imediatamente de Angels Cry, Fireworks com seu estilo mais direito e sujo demorou um pouco mais para me agradar, mas foi ao ouvir Holy Land, que meu queixo caiu no chão.

Certamente o Angra não era a primeira banda de rock a misturar elementos brasileiros em suas composições, aliás no mesmo ano de Holy Land, 1996, o Sepultura lançou um disco também histórico Roots que buscou influência na música indígena. Mas ainda antes disso muitos artistas trouxeram a música brasileira para o rock, ou por outro ponto de vista, trouxeram o rock para a música brasileira, Mutantes é uma banda que me vem imediatamente à cabeça com sua mistura de rock e baião na canção Dois mil e Um, Novos Baianos também fizeram essas experimentações, enfim uma pesquisa revelará vários nomes, mas eu não os conhecia a época, de modo que lá nos meus treze anos a mistura de sonoridades afro-brasileira em Holy Land era inédito para mim e quando ouvi achei tudo fantástico.

Mas não é apenas na sonoridade que Holy Land mostra sua identidade brasileira, toda a arte do disco é baseada nesse conceito, suas letras, sem pretensões narrativas ou rigor histórico, falam da descoberta do Brasil, de navegações, aventuras rumo ao desconhecido e até mesmo dos horrores do confronto étnico causado pela descoberta das novas terras. A arte gráfica simula uma carta marítima do século XV com uma rosa dos ventos colorida sobreposta a imagem, enfim todas as artes do disco estão direcionadas ao uma verdadeira homenagem da cultura brasileira e quando você tudo aquilo pra tocar no som, ainda assim, é também heavy metal, mas um heavy metal que banda de lugar nenhum outro lugar do mundo poderia ter feito, nem um Iron Maiden, ou Judas Priest ou Metallica ou qualquer outro nome poderia fazer, era um metal tipicamente brasileiro, Cosa Nostra, Made in Brazil.
Ao apertar o play ouvimos um som de pássaros na floresta seguido por um canto gregoriano renascentista europeu, é Crossing a abertura do disco, baseado numa obra de Palestrina, compositor italiano do século XVI, essa introdução de ar clássico é breve, pois é na sequencia já começa o disco pra valer, Nothing to Say, o peso vem somado a um suingue diferente, quase dançante, o foco principal é seu marcante riff de guitarras e as levadas de bateria, somados a um enxerto de flauta bem brasileiro e um interlúdio semi clássico de teclados. A letra do ponto é o ponto de vista do conquistador europeu que relembra atrocidades cometidas na conquista das novas terras, em seu encerramento a música se entrega totalmente a um maracatu e logo percebemos que o que estamos ouvindo é um tipo totalmente não ortodoxo de metal.

Em Silence and Distance temos uma visão poética dos aventureiros que lançam ao mar, começa e termina de forma belíssima ao piano, o peso se encontra no centro na canção, mas é ritmado por batidas nada convencionais para o metal, nota-se claramente a influência da música afro nesse disco, principalmente na inspiração dos ritmos que guiam as canções.  A letra é simplesmente linda e inspiradora, em mim, particularmente, dá vontade de pegar as coisas e viajar para lugares novos, em particular, e move muito esse trecho:

“Now let me go
Away across the sea,
The waves can't be as high
As they pretend to be”

Se até aqui, meu queixo já estava bastante baixo com esse disco, é na canção seguinte que ele foi ao chão e determinei que esse seria meu disco predileto do Angra, Carolina IV, a narrativa de um navio que sofre uma tempestade no mar levando a vida de toda sua tripulação inicia ao som de tambores africanos e vozes entoam, em português, uma louvação a Iemanjá, em inglês, o personagem principal da história conta a história do navio que parte em busca de novas terras, mas tudo que encontra é um fim trágico que leva o personagem a das frases mais forte da música:

“Human dreams have sometimes cost their lives,
All their lives dreaming”

O riff da música é um speed metal, ou seja, mais aceleradinho, mas no meio há um interlúdio onde a canção vira uma verdadeira sopa de referências, todas muito bem amarradas de forma que tudo fica bastante coerente, há enxerto da música Bebe de Hermeto Pascoal, um dos músicos brasileiros mais cultuados do mundo, exceto por brasileiros, inserções de piano clássico e um solo de corda, que vou ser sincero ainda não sei dizer se é violino ou violoncelo, tudo para desaguar numa orquestração que traz de volta o speed metal encerrando a história do malfadado Carolina IV, e no fim de tudo voltamos ao maracatu inicial e a música encerrar com sua louvação a Iemanjá. Uma verdadeira epopéia conceitual de 10 minutos de duração.

A faixa título Holy Land tem uma poesia meio abstrata, a mim parece uma declaração de amor à terra, toda música é baseada num piano tocado no ritmos do berimbau, uma releitura de ar clássico das canções de capoeira, acompanhado de percussão no mesmo ritmo, o metal dá uma olás ao longo da canção, mas aqui, a grande estrela é o piano. A próxima canção The Shaman tem a história de um pajé tentando trazer alguém de volta a vida, seu maior destaque e a fala, também em português de um verdadeiro pajé falando sobre ervas medicinais.

Make Believe é a estranha no ninho, principalmente por não haver nenhuma referência a musicalidade brasileira ou ao conceito principal do disco, uma balada açucarada típica do metal melódico, sua letra trata de sofrência para sertanejo nenhum botar defeito. Aliás, o solo de guitarrada ao final da canção é sensacional, daqueles de fazer air guitar. É também um dos clássicos do Angra, dada sua beleza, inclusive ganhou um clipe bastante lisérgico.


Z.I.T.O. é um dos grande mistério do Angra, já que ninguém sabe exatamente o que significa, corre uma lenda que é o apelido dado a um jovem que vivia pelas cercanias da chácara onde a banda se recolheu para a pré produção do disco e foi pego em situação embaraçosa. A banda nunca confirmou isso, mas usam esse trecho da música como pista:

“Like a teenager discovery
What's more delightful than this?”

Enfim, vá se saber.

O disco chega sua conclusão com duas canções que não podiam ser mais diferentes uma da outra, Deep Blue é dramática e grandiosa, órgãos bachianos, interlúdio gregoriano terminando num epic metal  e Andre Matos carregando nos agudos. As letras são um poesia sobre a solidão nos oceanos, enfim tudo é grandioso, com ares de clímax, mas nem nisso a banda queria soar previsível e o disco termina da forma mais frugal possível, Lulaby for Lúcifer nada mais é que um voz e violão do diálogo entre um abutre e um homem, aparentemente moribundo, por um pedaço de carne, a música é acompanhada pelo som ambiente de gaivotas na praia, som esse que encerra o disco.

Angra 1996 da esquerda para direita: Ricardo Confessori, Rafael Bittencourt, Andre Matos, Kiko Loureiro e Luis Mariutti



Holy Land foi e continua sendo um disco muito importante para mim e considero de verdade um dos grandes momentos do metal. Para comemorar os 20 anos do disco tanto o Angra quanto o vocalista Andre Matos estão fazendo turnês comemorativas nessa segunda metade de 2016. Uma pena morar tão distante do eixo cultural do país, mas sinceramente espero que tragam ao menos um dessas turnês para o Acre, até porque um disco tão brasileiro quanto Holy Land merece ser comemorado em todos dos cantos do país. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Esquadrão Suicida é bom, mas tem defeitos.

Esquadrão Suicida é um filme bom, mas com defeitos. É entretenimento, básico, raso e divertido pacas. Seus carros chefes, obviamente Pistoleiro e Arlequina esbanjam carisma em seus personagens, destemidos e divertidos, mas com insinuações de profundidades trágicas em seus personalidades, Pistoleiro o pai em busca do amor da filha, Arlequina a dependência emocional doentia de seu amante coringa. A história é basicamente regimental, violões, ameaça ao mundo, envolvimento do governo americano, reuniões ultra secreteas, raio azul e explosões grandiosas em CG, diverte e satisfaz. 

Os defeitos do filme estão em seu roteiro, onde temos um grupo de personagens onde boa parte deles tá lá só pra completar o time, Crocodilo, Katana, Capitão Bumerangue e Amarra praticamente não têm personalidade na história, não gera empatia e você, basicamente, não dá a mínima pra eles. El Diablo já foi contemplado com um arco completo de história, personagem silente, visual estilizado convivendo com o peso de uma tragédia pessoal sobre os ombros é um personagem que encontra sua redenção no final.

Amanda Waller é a típica chefona, durona, emburrada, fdp de marca maior, em interpretação perfeita de Viola Davis, você adora ela, a não ser que ela fosse sua chefe. Rick Flagg é o tipico herói americano, coragem, bravura, honra, amor, é dele o drama amoroso da história, ama a vilã, tem confrontar seus sentimentos com seu senso de dever e blá blá blá, aquela velha história, você já viu esse filme antes. 

E temos, claro, não dá pra deixar de citar, Coringa, Mister J, a nova encarnação do palhaço vestindo roxo, Jared Leto atuando mandando bem no persoangem, embora nao faça jus a todo aquele hype em torno do "método", enfim, ótimo personagem, totalmente subutilizado na trama, serve pra explicar a origem e os dramas de Arlequina, mas só. Aliás insistiram em botar ele na trama principal, pura jogada de marketing, ele não faz diferença alguma, não agrega nada à história. Merece o antagonismo principal em algum próximo filme da DC, o novo solo do Batman quem sabe.

Nota: Ben Afleck ainda não me desceu como Batman/Bruce Wayne, mas enfim...

Acho que temos já um universo ficcional da DC mais estruturado após esse filme, minha opinião, você vai gostar do que vai ver. Carece um pouco mais de cuidado nos roteiros, mas isso pode ser arranjado, elementos para fazer um Suicide Squad 2 fenomenal não faltam. O Esquadrão é uma pedra bruta que precisa ser lapidada para virar uma joia.