sábado, 13 de dezembro de 2014

Evangelion vol 14

Nem sei mais quanto tempo foi desde a primeira vez que comprei o primeiro volume de Evangelion, sei que faz mais de dez anos pelo menos! E olha que cheguei atrasado, já era o volume 10 ainda pela há muito falida editora Conrad. Foi mais ou menos pelo mesmo período que assisti ao Anime na Filmoteca Acreana, não essa que tem hoje, bonita e reformada, mas a antiga, uma salinha escura, apertada e com cheiro de mofo, foi lá que vi os primeiros episódios da série que, de fato, consolidou meu gosto pelos desenhos animados japoneses, vulgo Anime, foi também a primeira que vi legendada.

Antes de Evangelion já havia para mim Os Cavaleiros do Zodiaco, Dragon Ball, Yu Yu Hakusho, mas todas essas eu via na TV aberta, dubladas e confesso que pra mim tudo era desenho, não fazia muita diferença de que país vinha. Eva, apelido carinhoso, foi diferente! A começar os personagens falavam em japonês e cara, isso faz uma diferença danada pra mim, segundo tinha robôs gigantes esquisitíssimos que pareciam monstros e sangravam que nem gente! Os vilões eram seres de formatos bizarros chamados Anjos, que não falavam e por tinham uma obsessão enorme por alcançar uma base secreta chamada NERV e se conectar com a criatura escondida lá dentro, fora que quando morriam sempre explodiam em forma de cruz. Outra coisa eram os personagens, pouquíssimos eram o que se pode chamar de pessoas normais, no fundo todos eram bem estranhos e problemáticos, meio como os personagens de David Lynch. 

Fora isso tinha o enredo, um quebra cabeça fragmentado onde as peças nunca vinham em blocos, mas em informações espaçadas ao longo da série. A base era um apocalipse chamado Segundo Impacto que teria acontecido no ano 2000 e dizimado metade da população da Terra, anos mais tarde haveria um Terceiro Impacto que terminaria de devastar o resto, para impedir isso a Nerv e os Evas (os robôs gigantes) foram criados. Tudo isso previsto com exatidão em documentos encontrados no Mar Morto e dirigido conforme o roteiro por uma organização secreta chamada Seele que pretende pelo visto não evitar o Terceiro Impacto, mas sim usá-lo conforme seus planos para executar um tal Plano de Complementaridade Humana que nunca explicam exatamente o que é! Fim do mundo, robôs gigantes, tramas psicológicas intelectualóides, nudez moderada, se essa for sua praia então Evangelion é um prato cheio.

Voltemos ao mangá, publicado há anos, nem sei quantos, acho que desde que a série estreou para o mundo em meados dos anos 90, escrita bem... e digo bem.... lentamente por Yoshiyuki Sadamoto, Eva encontrou uma base consolidada de fãs ao redor do mundo. O mangá seguiu bem os passos da série, com alterações em diversos momentos, mas nada drástico, acabou parecendo uma versão estendida da história contada no Anime e muitos anos depois que a série original se encerrou e já na metade do remake que tá sendo lançado no formato de filmes, o mangá finalmente se encerra, e com ele se encerra um segundo ciclo de histórias de Evangelion.

Faz meses que isso já aconteceu para o mundo, mas só na semana passada que isso chegou ao Acre e só agora li. Lançado por uma nova editora, num novo formato, com o dobro de páginas do formato anterior, finalmente li o volume 14 ou 27-28, pra quem lê no formato antigo. O volume tem poucos diálogos, visualmente é belíssimo, pena que mangás são publicados em preto e branco, pois as imagens contidas nesse volume bem que mereciam cores e papel couchê. Na capa está Shinji Ikari o heroi mais chato da história, neva e atrás dos escombros de Tokyo 3 está a Unidade Eva 001 como que crucificada. A história é praticamente a transcrição do final do filme The End of Evangelion, mas com cenas adiconais, e nele vemos o Apocalipse final do mundo, todas as consciências se dissolvendo e por fim cabendo a Shinji a decisão final: ficar num mundo sem sofrimento, mas também sem alegria, sem nada ou voltar ao mundo como ele era e pelo qual já fora tão ferido.

Quem já viu The End... sabe a decisão do personagem, aqui é exatamente a mesma, com a diferença que aqui se acrece uma conclusão mais bonita e "happy end" que a cena final do filme, que eu ainda prefiro. Porém, não para por aí, a cereja do bolo está no capítulo extra, uma espécie de Epílogo que Sadamoto nos dá brinde onde ele faz aquilo que todo roteirista da Marvel já tá craque em fazer, puxar ganchos e aqui o gancho é puxado diretamente para os Rebuilds a série de filmes que está sendo lançados e praticamente reescrevendo (ou continuando, segundo teorias) a história original do Anime. Eu não poderia pedir final melhor! Bola dentro Sadamoto, ainda serve como desculpa pra demora nos lançamentos, não fosse esperar os filmes não daria pra fazer o gancho!
Belíssima cena final de The End of Evangelion

O que resta agora é esperar, ainda temos um Rebuild pra ser lançado, que vem aí cheio de promessas e muitas perguntas que, se eu conheço bem Hideaki Anno e a equipe da Gainax, jamais serão devidamente respondidas e Evangelion seguirá ainda por muitos anos temas de debates acalorados nos fóruns de internet ou entre conversas com o pequeno punhado de amigos que tenho que conhecem a série!

Vida longa Neon Genesis Evangelion!

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Leve seus filhos para assistir Interestelar!

"A humanidade nasceu na Terra, não quer dizer que devamos morrer aqui"

Christopher Nolan é um diretor que vive no meio de um constante dilema, quer fazer filmes originais, desafiadores e ao mesmo tempo blockbusters, isso o põe frente a um grande desafio como produzir filmes ao mesmo tempo inteligentes e acessíveis ao grande público. Sua mais nova empreitada Interestelar demonstra bem esse desafio ao trabalhar com conceitos de física quântica, que é aquele ramo da ciência que pega tudo o que você acha que sabe sobre a realidade e bate tudo num liquidificador teórico. Afinal a história trabalhar com alguns conceitos complicados pra quem não é chegado nessas coisas de espaço sideral como: os buracos de minhoca, o que acontece dentro de um buraco negro, anomalias temporais ou a questão da dinâmica das viagens espaciais onde é necessário usar a força gravitacional dos astros pra impulsionar as naves para seus destinos (não, elas não se movem que nem no Star Wars), enfim, para o filme não ficar confuso tudo isso tinha que sair bem explicadinho, tin-tin por tin-tin para os potenciais espectadores.

Aí foi um dos defeitos do filme, pois Nolan resolver explicar todos esses temas... explicando, logo o número de diálogos didáticos aparecem bastante durante o filme, pequeno exemplo: ao chegar em Saturno o piloto Cooper conversa com um dos cientistas sobre por que o Buraco de Minhoca parece uma esfera e não um túnel conforme as ilustrações, segue aí uma cena de explicação, que aliás é extremamente similar à uma cena do filme O Enigma do Horizonte, que trabalhar com um conceito parecido. Voltando ao assunto, essas cenas acontecem constantemente ao longo do filme, mas não tiram em nada a grande experiência que ele nos proporciona.

Aliás há em Interestelar muitas referências à outro grande filme (e também livro) de ficção científica, 2001 - Uma Odisseia no Espaço, obra prima de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, o próprio filme é estruturado na mesma forma de Odisseia, um grupo de seres humanos se lança ao desconhecido em busca de respostas. Em 2001 a busca é pela resposta à nossa própria existência, em Interestelar é em busca de salvação. Caso você ainda não tenha lido uma sinopse, lá vai: num futuro a Terra não produz mais nada além de milho, milhões morrem de fome e o próprio oxigênio está se tornando escasso, a única esperança da humanidade está em encontrar um novo lar, um novo planeta. A salvação surge quando um Buraco de Minhoca surge na órbita de Saturno e leva a uma outra galáxia com planetas potencialmente habitáveis e quatro cientistas são enviados  para encontrar um novo lar e salvar a humanidade da extinção.

Porém, apesar de serem odisseias espaciais há uma grande diferença de estilos entre Nolan e Kubrick, este é caloroso, aquele é frio. Nolan buscar sempre dar uma dimensão humana aos dramas vividos pelos astronautas, vê-se pelo personagem principal Cooper, que tem de ver sua filha envelhecer anos e pensar que seu pai a abandonou, enquanto para ele apenas dias se passaram, seus desespero em querer voltar para casa é tocante ao longo do filme. Já David Bownman de Kubrick  não guarda maiores relações na Terra e face ao desconhecido ele se joga de cabeça em busca das respostas sem olhar para trás. Sem falar nos encerramentos, Kubrick não dá colher de chá e o encerramento de seu 2001 não fornece explicações fáceis, mal dá para saber se foi um final feliz ou triste, já Nolan optou por um final fácil, só posso imaginar que para agradar as massas.

Interestelar resgata a tradição de Arthur C. Clarke (nem tanto a de Kubrick) ou ainda a de Isaac Asimov de criar uma ficção que mistura acurácia científica com uma boa dose de admiração, emoção e esperança no futuro da humanidade. É essa mistura que eu sempre adorei na ficção científica, essa habilidade de nos fazer ter esperança no futuro, de crer que é possível. Por isso eu digo que se você ainda não assistiu a esse filme, vá logo, leve seus filhos se os tiver, leve seus sobrinhos, afinal, quem melhor para ver um filme sobre o futuro do que aqueles que irão vivê-lo.

domingo, 9 de novembro de 2014

RESENHA: Pink Floyd – The Endless River


Já disse no facebook , torno a dizer aqui, não confie na opinião de fã. Sou fã do Pink Floyd, logo, minha opinião sobre seu mais recente disco, The Endless River não é confiável. Mas mesmo assim vou dá-la a vocês.

Quando foi anunciado o novo disco do Pink Floyd depois de mais de vinte anos de hiato, aconteceu aquele fenômeno que é uma maldição na vida de toda grande banda, a expectativa dos fãs. A banda foi sempre muito honesta na divulgação do disco sendo abertos em dizer que era um disco de sobras de estúdio da gravação do disco anterior The Division Bell, também uma homenagem ao falecido tecladista Richard Wright e por fim a última despedida do Pink Floyd.

Mesmo sendo fã da banda para mim estava bem claro que a fase áurea do Floyd se encerrou com The Wall, tudo o que veio depois com Waters e Gilmour assumindo sozinhos a liderança da banda, respectivamente jamais chegou aos patamares de originalidade e genialidade musical de antes. Então, quando chegou o anúncio de The Endless River eu fiquei muito feliz, mas em momento nenhum me iludi com a potencial qualidade do álbum, também não sofri com isso, pois tinha duas grandes certezas: a primeira, o disco não seria genial, nem chegaria aos pés dos clássicos da banda; a segunda, que eu iria adorá-lo.

Agora com disco a todo volume nos ouvidos eu constato que ambas certezas se confirmaram, The Endless River é sim um ótimo disco do Pink Floyd, mas não é genial, nem chega perto disso. Não é original, inovador, nem vai estar na lista de melhores do ano. Essa época do Pink Floyd já passou. O disco é pura nostalgia do passado, reutilizando e reciclando ideias que já foram usadas em vários outros discos e registros da banda, há ecos de diversas fases e até algumas referências mais diretas como belíssimo solo de órgão “Autumn’68”, referência direta a Summer’68 do disco Atom Heart Mother (1070) ou ainda “Talking Hawking”, composição baseada num lindo movimento de piano, onde o cientista Stephen Hawking faz outra participação especial como já fez antes em “Keep Talking” do Division Bell.

Aliás, a homenagem a Wright se justifica nesse disco, a base de muitas composições está no piano onde se destaca o talento de Wright para criar belíssimas composições baseadas em movimentos simples e suaves onde cada nota flui com naturalidade ao longo das canções. Para mim, essas inserções de piano, sempre foram a maior riqueza que Wright trazia a música do Pink Floyd. Confirme o que digo ouvindo Anisina, o som daquelas teclas vai demorar a sair da sua cabeça. Gilmour também manda muito bem no disco, Allons (y) parte 1 e 2 são calcadas em excelentes riffs de guitarra, além da música de encerramento Nervana, um dos riffs mais legais dele que já ouvi, (É SÉRIO!!!) merecia uma composição completa. Além de Louder than Words a única que apresenta os clássicos vocais do guitarrista em conjunto com seus elegantes solos de guitarra.

Os defeitos de Endless River estão nas canções que passam batidas aos ouvintes, muitas delas são sim meras curiosidades e sobras de estúdio e não destacam no albúm, coisas que se assemelham a trilha sonoras ou canções ambientes que você nem vai perceber quando mudar de uma para outra. Alguns trechos funcionam muito bem, particularmente de Allons (y) até Talking Hawking e Surfancing como uma ótima introdução á Louder than Words. A maioria das canções serve apenas como pedestais para as que realmente se destacam, isso transforma uma quantidade considerável de minutos do disco em mera música ambiente que você ouve enquanto está fazendo outra coisa (enquanto escreve uma resenha, por exemplo).


Por fim, não é aquele disco sensacional que talvez você estivesse esperando, mas também acho injusto dizer, como já vi em resenhas, que não merece carregar o nome do Pink Floyd, é claro que merece, se o pavoroso disco Ummagumma merece esse título, porque não The Endless River? Por outro lado, o disco realmente decepciona enquanto encerramento de atividades, como Gilmour já deixou bem claro que seria, a solução mais correta e utópica, seria Waters voltar pra banda e junto com Gilmour e Mansom gravar um novo e derradeiro disco, como fez o Black Sabbath. Sim, sabemos que os dois iam brigar no estúdio, mas afinal a música do Floyd sempre foi fruto de conflitos e o resultado com certeza sairia fantástico.

domingo, 17 de agosto de 2014

Os Descordantes: duas músicas

Um nome interessante na cena musical acreana é a banda Os Descordantes, nome referente ao termo descordo, que era o nome dado ao um específico tipo de trova que discorria sobre paixões não correspondidas, daí você já pode adivinhar o tema principal das canções desse grupo, paixões seguidas de pés na bunda e muita, mas muita dor de cotovelo e tudo isso embalado não em alguma espécie de rock erudito medieval, mas na mais tradicional forma de descordo brasileiro a música brega, o samba e um pop rock melodioso e choroso.

Mistura que vem funcionando muito bem ao vivo nas casas noturnas e festivais de Rio Branco e outros estados do Brasil. De fato, a banda inclusive já tem um bom conjunto de fãs, tanto é que organizou um show de lançamento numa das casas mais tradicionais de dança e música brega da capital a Saudosa Maloca lotando lugar.

A grande expectativa do ano é o lançamento do primeiro disco da banda Espera a Chuva Passar, que reunirá muitas das canções pop/brega já conhecidas do público numa coletânea de poesias de bar que vão da pieguice das declarações de amor à revolta das canções de corno do homem abandonado. Raul Seixas já dizia que a moçada lá no pier acha careta se alguém falar de amor. Os Descordantes discordam:

Hoje de Manhã


Sair Daqui

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Alvorecer de um novo sol!

Dez anos se passaram desde 2004, ano em que o Tuatha de Danann lançou seu último disco Trova di Danú, muitas águas rolaram desde então, mas eis que ele voltaram fazendo show ao vivo pelo Brasil e agora solidificando tudo lança duas músicas novas direto na internet para download gratuito!

Você pode baixar tudo clicando nesse link
http://www.tuathadedanann.art.br/

Tive o prazer de ver essa banda ao vivo aqui no Acre, foi até motivo de postagem por aqui
http://seringueirovoador.blogspot.com.br/2009/05/tuatha-de-danann-no-acre.html

Achei uma pena quando a banda meio que encerrou as atividades, mas eis que eles resolveram seus problemas, seja lá eles quais tenham sido e voltaram a ativa em plena forma com duas ótimas composições, principalmente We're Back, que transborda energia, nostalgia e olhando sempre para o futuro!

Muitos anos ao Tuatha!!!




domingo, 8 de junho de 2014

RESENHAS: Dois livros


O Dia Em Que O Rock Morreu – Andre Forastieri.

Esse livro é um epitáfio para o Rock'n Roll escrito por Andre Forastieri, jornalista com gabarito, foi editor da Bizz, fundou a revista Herói e publicou diversos livros e mangás através de sua editora a Conrad, pioneira no ramo dos quadrinhos japoneses no Brasil, enfim um cara com bagagem pra falar de muita coisa, mas aqui o assunto foi Rock, sobre o que ele foi, como morreu e como somos todos um bando de necrófilos por continuarmos nessa teimosia de acharmos que ele ainda é relevante para o mundo.

Editado a semelhança de um disco punk, porém conceitual, conceitual porque dividido em quatro partes que se alinham conceitualmente e seriam como lados A e B de um disco duplo, punk porque é livro pequeno, de textos curtos e grossos, daqueles que não deixam a gente ficar indiferente, daqueles que mexem, irritam, abalam suas estruturas, seus conceitos e por que não? Te fazem refletir. Ao mesmo tempo que enterra o rock o livro em si é um celebração ao melhor que o rock foi, muito mais do que um mero estilo musical, mas um estilo de vida, de atitude, de filosofia.

Bem embasado em argumentos o livro nos mostra como o Rock envelheceu, perdeu seu sentido e sua juventude, virando um estilo elitizado apreciado por um público restrito que o degusta como um enólogo desguta vinhos. Um estilo pragmático cheio de regras e tabús. Forastieri pega tudo isso e joga na nossa cara, um tapa ou um soco, pode doer, mas vale a pena a reflexão.

Não é a toa que a capa do livro emula a capa dos Nevermind the bolocks dos Sex Pistols, o livro é um disco punk, escrachado e pode acreditar vai causar uma reação em você. São textos espalhados por toda a carreira jornalistica de Forastieri onde hora ele disseca grandes ídolos, hora disseca o rock brasileiro, perpassa a história das revistas, gravadoras e capas de disco e por fim, tudo o que ele já escreveu sobre o Nirvana, não são crônicas lineares, mas fazem todo sentido quando organizadas pelo autor.

Para todo fã ou apreciador de rock vale a pena a leitura deste que já considero um dos melhores livros do ano, recomendo e recomendarei. Mas cuidado, é preciso ter mente aberta, é preciso entender o que o autor quer lhe dizer, principalemente é preciso não ter medo de ter suas convicções abaladas, pois o autor não tem medo de lhe abalar, lhe dirá o que quer dizer sem meias palavras como lhe diriam aqueles rockeiros do passado que não irá voltar mais.

Ghost Rider – A Estrada da Cura – Neil Peart

Essa não foi a primeira incursão literaria de Neil Peart, mas certamente foi a mais dolorosa. Em 1997 Peart era reconhecido como um dos melhores bateristas do mundo, membro de uma das bandas gigantes do rock o RUSH, tinha acabado de concluir uma mega turnê do disco Test for Echo, considero por ele seu auge como baterista, bem de vida, casado, filha na faculdade, ele era um homem realizado.

Quando a tragédia se abateu sobre sua vida, levando sua filha, num acidente de carro e sua esposa, por câncer menos de um depois, sozinho e abatido Peart só via escuridão em seu futuro, todo o otimismo que tinha se esvaíra, todo o sucesso, fama, música, nada mais parecia importar, ainda que vivo a vida parecia acabar, só um coisa lhe restava, pegar a estrada.

Apaixonado por viagens, Peart se lançou na Estrada a procura de um sentido, da vontade de viver, os relatos dessa busca são a matéria de Ghost Rider, através de narração, diários e cartas que ele escreveu durante esse período viajamos juntos com eles pelas paisagens do Canadá, Alasca, EUA e México, todos os lugares onde andou, pessoas que encontrou, amigos, conhecidos, familiares, enfim toda a história de suas viagens.

O autor entrega sem vergonha todos os seus momentos de fraqueza, suas crises de choro, seus momentos de depressão, mas também relata as pequenas esperanças que iam surgindo aos poucos, as pequenas vitórias que iam surgindo, como ele ia reapredendo a amar a vida sem se entregar jamais as facilidades do vício (ele relata como chegou perigosamente perto de se tornar um alcóolatra ) e da amargura.


Não é livro sobre música, há breves comentários, mas nada demais, não há histórias sobre o Rush, uma ou duas, va lá, basicamente é um livro sobre viagens, sobre perda, sobre esperança. O livro é grande, mais de 500 páginas, leitura as vezes pesada, mas um bela história para quem quer conhecer o homem por trás das baquetas do Rush, sua visão de mundo e suas convicções.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O ANGRA VEM AÍ!!

Dia 31 de maio a cidade de Rio Branco será palco de um evento inédito quando se fala em Heavy Metal, falo do show da banda paulistana Angra, que durante os anos 90 e início dos anos 2000 foi um dos maiores e mais influentes nomes do metal brasileiro.

Após seu sexto álbum “Aurora Consurgens” a banda passou por altos e baixos como: má aceitação do disco, saída de membros, etc., enfim a banda começou a sumir da mídia dando lugar aos projetos paralelos de seus integrantes. Em 2010 foi feita uma tentativa de retorno às atividades com uma turnê conjunta ao lado do Sepultura, também com o lançamento do disco Aqua, mas, por problemas que só os membros da banda sabem totalmente, a química não rolou como antes e, creio, a gota d'água foi fraquíssimo show no lendário festival Rock in Rio, que culminou com a saída do vocalista Edu Falaschi pouco tempo depois.

Uma nova tentativa para reativar a banda  está sendo feita com a turnê de 20 anos de aniversário do disco Angels Cry, debut da banda, um dos álbuns de metal mais importantes do Brasil. O que se pode dizer até agora é que a banda vai muito bem, com o músico italiano Fabio Lione assumindo os vocais o Angra segue fazendo shows por todo o Brasil e em diversos cantos do mundo. O DVD ao vivo recentemente lançado é uma amostra do ótimo momento que a banda vive, quem por acaso viu o triste show do Rock in Rio precisa urgentemente dar uma boa olhada nesse material, que mostra os músicos em todo seu vigor e competência musical.

O que é uma alegria para todos os fãs de Heavy Metal acrianos que irão receber a banda num ótimo momento, com todos os ingrediente necessário para um excelente e histórico show a ser realizado em nossa terra.

As 10 mais...

Inspirado por esse evento decidi fazer uma lista com as minhas 10 canções favoritas da banda, nem todas as canções que seguem são hits, a maioria na verdade passa injustamente batida pelos fãs, embora para mim sejam verdadeiras obras primas:

Carolina IV

Música do segundo disco da banda Holy Land e até hoje a minha favorita, é um épico conceitual de 10 minutos de duração que mistura batidas de música africana e brasileira, movimentos de música clássica e riffs de guitarra cheios de suingue. Uma obra prima, o tipo de música que só poderia ser compostos por uma banda brasileira. A letra conta a história de um navio que nunca chega ao seu destino. Além de ser farta em referências, como o coral que inicia e termina a canção com versos em louvor a Iemanjá ou ainda um pequeno solo de flauta no meio da canção, que remete a canção Bebe de Hermeto Pascoal. Ouça!

 

Make Believe
 
Também do segundo disco Make Believe é uma balada de grande beleza, é baseada nos teclados e piano, e também é um dos melhores trabalhos de vocal de Andre Matos, primeiro vocalista do grupo. A letra é vaga e parece falar de várias coisas, arrependimento, esperança, recomeço... enfim um significado para cada um que escutar.


Time

Canção do clássico disco Angels Cry, mescla elementos da música clássica com uma introdução baseado em piano, violões e violoncelos além um vocal limpo e suave de Matos caindo direto num hard rock e vocais mais agressivos, o refrão dessa música é simplesmente marcante, não é a toa que é presença certa em quase todas as turnês da banda.


Sprouts Of Time

Música do quinto disco da banda o ambicioso Temple of Shadows, Sprouts of Time é uma música incrivelmente injustiçada, não vejo ela em set lists da banda desde a turnê do referido disco. É uma mistura de heavy metal com MPB e Samba numa fusão perfeita, Edu Falaschi, vocalista dessa canção está simplesmente sublime, o refrão é forte e marcante e há um pequeno dueto de violão e piano no meio da canção que é uma coisa de derreter os miolos, simplesmente genial. Ouça uma, duas, três, quatro, quantas vezes quiser, não dá pra enjoar! Não esqueça de prestar atenção à letra, uma belíssima letra sobre Recomeço e Esperança feita através de uma metáfora de uma planta que cresce para exemplificar a vida, poesia pura gente!


Gentle Change

Torço muito pra que essa música esteja no Set list do show de Rio Branco, uma vez que ela já faz parte da atual turnê, Gentle Change pertence ao terceiro disco da banda Fireworks é uma linda canção sobre envelhecer, sua letra é de uma grande beleza poética, pra quem não entende inglês vale a pena procurar a tradução. A música é tão linda quanto a letra, possui riffs marcantes de guitarra, refrão feito na medida pra cantar junto, além de piano e percussão ao fundo trazendo uma boa dose de suavidade à canção. O encerramento é um duo de guitarras e piano com toques abrasileirados que é de cair o queixo, recomendo.



Reaching Horizons

Se o Queen possuía em We Will Rock You e We Are The Champions seus dois grandes hinos, daqueles pra cantar junto em grandes estádios, o Angra também os têm, um deles é essa música arrebatadora, lançada na primeira Demo da banda, começa com um dedilhado triste ao violão que vai crescendo até estourar numa canção grandiosa, épica, cheia de imagens vívidas e grandiosas, o refrão vai simplesmente grudar da sua mente por muito tempo, pode crer é ouvir uma vez pra não esquecer nunca mais.


Heroes of Sand

Se Reaching Horizons foi o primeiro hino esse é o segundo, uma valiosíssima contribuição de Edu Falaschi para a banda, criou um clássico inesquecível tão épica quanto a anterior, com um refrão tão grudento quanto, daqueles pra cantar com um isqueiro ou uma tela de celular (vá lá) levantado para o alto!


So Near So Far

Amado ou odiado pelos fãs, Aurora Consurgens foi um disco polêmico na carreira da banda, possuía quase a mesma ambição de seu antecessor Temple of Shadows, inclusive, musicalmente falando, é muito parecido com ele, mas parecia que tinha algo faltando, ao que parece, a banda não andava muito bem internamente na época de sua gravação, isso pode ter interferido no resultado final. Mas goste-se ou não do disco ele possui uma pérola escondida, a canção So Near So Far, uma mistura de música oriental e brasileira inseridas num heavy metal técnico e complexo bem ao estilo de seu compositor Kiko Loureiro, além um breve, porém genial solo de violão inserido no meio da canção. Por isso você pode odiar o Aurora Consurgens, mas só pelo fato desta música estar nele, redime todo o disco.


Weakness of a Man

Sétimo e até o momento último disco da banda, Aqua foi um pouco decepcionante, tentou juntar a ambição do Temple com o carisma do Rebirth (disco onde está a heroes of sand, a propósito), mas falhou em ambos. Não é ruim, mas houve todo um alarde com mini documentários semanais no YouTube registrando o processo de gravação e anunciado como o melhor da carreira da banda e o que recebemos foi um disco bom, nada mais. Composições que não refletiam todo o potencial do Angra, muitos clichês mal colocados, até a típica sonoridade brasileira soou deslocada nesse disco, exceto por Weakness of a Man, penúltima do disco e a melhor de todas, tudo aqui está no lugar, groove, aquele suingue com jeito brasileiro, refrão forte e excelentes riffs de guitarra. Uma música que merece ser ouvida e na minha opinião devia ser mais executada durante os shows.


Petrified Eyes

Encerrando essa lista outra do Fireworks, Petrified Eyes merecia estar na lista só pelo dueto de guitarras que a inicia, arrebatador, com toques de country que vai levar você direto a paisagens desérticas de faroeste e depois lhe jogar num speed metal pesadíssimo, com vocais que conseguem ser agressivos e líricos ao mesmo tempo. Aqui não há toques de música clássica, nem suingue brasileiro, não há piano ao fundo para suavizar nada, essa música é um rock'n roll puro, na lata, sem frescura e de altíssima qualidade.


Enfim, espero ter aguçado a curiosidade do leitor que não conhece a banda e, quem sabe, apresentado algumas pérolas que passaram despercebidas daqueles que já conhecem por cima o trabalho dos caras.

E que venham 31 de maio e muitos outros shows tão bons quanto esse.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

RESENHA: Anjo Gabriel - Lucifer Rising

Lucifer Rising é o segundo álbum da banda pernambucana Anjo Gabriel, trata-se de uma trilha sonora alternativa para um curta metragem dos anos 70 dirigido por Kenneth Anger. O curta, sem diálogos,  trata de "deuses Egípcios invocando o anjo Lúcifer a fim de inaugurar uma nova era do oculto" (que viagem!), palavras do próprio Anger que inclusive nega que o filme seja psicodélico e ainda por cima desaprova o uso de drogas "Eu acho que drogas são muletas, você não precisa delas para ser criativo". O filme é basicamente uma síntese da contracultura dos anos 70 que flertava com diversas vertentes místicas indo do satanismo à busca pela dita sabedoria oriental, tendo, por isso, cenas filmadas no Egito e nos nos Stonehenge da Inglaterra, além da farta utilização de elementos Egípcios como ideogramas e figuras piramidais, também constam referências à Thelema e a seu mentor Aleister Crowley, que Anger considera um gênio britânico.

Não é a toa que esse projeto chamou atenção de grandes figuras da música como Jimmy Page, que foi cotado para fazer a trilha sonora original do filme, porém desentendimentos com o diretor cancelaram a participação de Page que só lançaria sua versão da trilha sonora muitos anos depois, em 2012. O filme foi lançado com trilha sonora escrita por Bobby Beausoleil na prisão, onde está até hoje condenado por participação nos assassinatos de Tate-La Bianca, a mando de Charles Manson.

Essa é, basicamente, a história do filme, pulamos então para o 2010 quando houve a mostra Play The Movie, para a qual a banda Anjo Gabriel escreveu compôs sua versão para trilha sonora do filme. Três anos depois em 2013 a banda faz o registro permanente de seu disco lançando-o apenas em vinil (os caras são absolutamente old school) e só meses depois em CD (nada de downloads grátis na net crianças). Muito coerente para a banda, que em seu som, presta uma homenagem ao rock psicodélico, ao hard e ao progressivo dos anos 70 que teve no vinil sua maior mídia de divulgação.

O Anjo Gabriel já havia impressionado em seu primeiro disco O Culto Secreto do Anjo Gabriel, de 2011, onde mostrou um hard poderoso repleto de psicodelia e elementos progressivos. Agora em seu segundo disco, eles nos traz um formato típico do rock progressivo, a suíte, aqui uma de 30 minutos de duração, divida em duas partes, cada uma com uma divisão em movimentos.

A primeira começa com um clima extramente soturno, é Volcanos and Lizards, uma música ambiente sinistra e cheia de efeitos sonoros como batidas no coração, chiados estranhos e feitos de sintetizador criando um clima tenso até o estouro do primeiro riff de guitarra, compassado, lento como um sino anunciando uma chegada ou inicio dessa louca viagem sonora. O segundo movimento Nayasteps é guiada por um riff blues da guitarra sobre uma batida quase tribal da bateria, uma gaita ecoa trazendo um clima "suspense de faroeste", um das partes mais psicodélicas do disco, é um movimento extremamente climático e o que vem a seguir é ainda melhor.

Se transformar em Ar, terceiro movimento, lindíssimo, perfeito. Uma flauta, etérea, abre esse movimento, deixando a música e o espírito mais leve para o início de um incrível solo de guitarra (poderia ter sido escrito pelo próprio Gilmour) revezando com um solo de sintetizador, ambos maravilhosos construindo a música sobre uma base sólida de baixo e bateria, um rock setentista completamente progressivo.

Da até um pouco de pena quando esse movimento se encerra e começa o quarto A Ascensão dos Druidas, guiado principalmente pelo sintetizado e teclados é um movimento com bateria jazzística e toques psicodélicos com vozes ao fundo recitando palavras ininteligíveis, bem ao estilo rock oculto, há ainda um perceptível toque oriental na música e assim com o som de vento e de uma flecha atingindo o alvo, encerra-se a primeira parte.

Um estouro inicia a segunda parte e na sequência um poderoso hard rock invade nossos ouvidos com todas a boas qualidades que esse estilo possui, riff de guitarra grudento, você vai se pegar cantarolando-o, uma guitarra solo em franco duelo com o teclado numa música acelerada, vigorosa e criativa, nos anos 70, poderia ter sido uma composição do Deep Purple ou talvez do Sabbath. O que vem depois é uma espécie de free jazz experimental com bateria frenética e fora de ritmo, é um movimento curto que logo abre alas da pra volta do hard rock da banda, não tão pesado quanto o anterior, mas cheio de feeling.

Por fim, o encerramento, que é um verdadeiro clímax cinematográfico, volta um hard tão vigoroso e pesando quando aquele que iniciou o movimento, embora não seja o mesmo, aqui há efeitos sonoros dão um aura de Space rock para a música, um encerramento épico para essa grande canção.

Não é difícil considerar o Anjo Gabriel como uma das melhores banda em atividade no Brasil a força e a criatividade de suas composições os equiparam às melhores bandas internacionais do estilo. É quase um crime pensar que música de tal qualidade é feita no país e não é de conhecimento geral. Tivessem surgido nos anos 70, não tenho dúvidas que essa banda teria um status de mito atualmente, talvez a história lhes faça justiça para o futuro. Se você gosta de boa música, se você gosta de bom rock, ouça essa banda.

Fontes: 
The Guardian - Kenneth Anger: como eu fiz Lucifer Rising (em inglês)

Collector's Room - Anjo Gabriel: Critica de Lucifer Rising

Vídeo
Filme Lucifer Rising mesclado com trilha sonora do Anjo Gabriel