domingo, 28 de abril de 2013

Evangelion 3.33 You Can (Not) Redo



 "Perdão, essa não era a felicidade que você queria" - Kaworu Nagisa

Para aqueles que não acompanham a série, vale uma pequena introdução. Neon Genesis Evangelion foi uma série de animação japonesa surgida em meados dos anos 90 com direção de Hideaki Anno, a serie contou com 26 episódios e dois longas metragens, realizados ainda naquela década, onde o primeiro, Death and Rebirth se tratava de um “resumão” dos episódios anteriores e o segundo The End of Evangelion era a tão esperada conclusão épica da série. Evangelion é basicamente duas coisas, uma série sobre robôs gigantes, famosíssimas no Japão, e uma das visões mais originais sobre o Apocalipse onde o destino do mundo é colocado na mão de crianças problemáticas e manipulado conforme um plano milenar (os Manuscritos do Mar Morto) regido por uma organização/seita religiosa, sombria. Não vou entrar em detalhes aqui, há farto material espalhado pela internet.

Mas enfim, os anos 90 passaram, Anno se envolveu em outros projetos, destacando dois, uma comédia romântica escolar (Karekano) e uma minissérie de humor “non-sense” (FLCL), veio uma nova década e já perto do fim dessa nova década, lá por 2007 ou 2008, Anno anuncia que voltará a trabalhar em Evangelion, não uma continuação (esperada por alguns, temida por outros), mas sim uma revisão, uma reconstrução de sua série original, utilizando nela todos os recursos que não existiam no século 20, e tal revisão seria feita em quatro longas metragens que receberiam o nome Rebuild of Evangelion.

Desde então dois filmes foram lançados: Evangelion 1.1 You Are (Not) Alone e Evangelion 2.22 You Can (Not) Advance, que não apenas incrementaram a história com efeitos visuais e sonoros de ponta, animação caprichada e CG de bom gosto, mas também reescreveram a história original de uma forma que nem o mais fanático dos fãs pudesse prever o final. Isso levou muitos fãs ao delírio a uma espera ansiosa pelo próximo capítulo, atrasado por diversas situações, incluído aí o terrível terremoto que devastou o Japão recentemente. É sobre esse capítulo que esse artigo se refere.

Mas peço a paciência do leitor para mais uma observação. É preciso ressaltar que Evangelion 1.1 foi basicamente uma remake dos primeiros capítulos da série acrescentado de mais algumas novidades que indicavam que a serie iria tomar um rumo diferente. Já Evangelion 2.22 pegou tudo o que você já sabia sobre a série e embaralhou de vez numa trama quase que 100% inédita, mas ainda assim havia muitas referências a acontecimentos da série.

Isso não acontece em Evangelion 3.33 You Can (Not) Redo, temos aqui um capitulo 100% inédito, nada do que é mostrado aqui aconteceu na série, é um rumo totalmente diferente e sabe-se lá o que irá acontecer quando isso tudo terminar. Esse a meu ver é o maior mérito desse novo capítulo da série, resgatar aquela boa e velha sensação de não saber o que vai acontecer. Se os capítulos anteriores com suas similaridades com a série original serviu pra cativar os saudosistas essa segunda metade da história vai saciar (ou não) aqueles que tinham fome de algo inédito relacionado à série.

No aspecto técnico o filme é excelente, efeitos e trilha sonora, animação, CG, fotografia, enfim todos os aspectos estão excelentes. O filme esbanja teatralidade em suas cenas, exemplos: os vários movimentos obviamente desnecessários que eles fazem pra controlarem os robôs, sons no espaço, a destruição em massa de cidades e prédios e até mesmo uma montanha de crânios, sabe-se lá de onde vieram, são alguns dos exageros propositais que eu tanto gosto nesse filme e o fato de tudo ser uma animação ajuda a não tornar esses exageros em cenas ridículas, até a cena mais surreal acaba ocorrendo de forma natural através do filme.

Já o roteiro do filme pode desagradar alguns, Eva 3.33 é mais lento que seu antecessor o frenético Eva 2.22, as cenas de ação concentram-se basicamente no início do filme e no final, ao contrário do filme anterior onde o foco estava nas quatro crianças pilotos Rei, Asuka, Mari e Shinji, aqui neste terceiro o foco é todo para Shinji, suas dúvidas, dilemas, culpas e sua relação afetiva com o misterioso Kaworu Nagisa onde ambos desenvolvem uma forte amizade um pelo outro, que será para Shinji o único alento que ele terá no mundo destruído após os eventos do segundo filme.

Poucos personagens, ambientes lúgubres e permanente sensação de isolamento e calmaria dão a tônica sombria e até depressiva desse capitulo, seu final é inconclusivo, uma vitória sem cara de vitória, a extinção, que nunca pareceu tão próxima quanto nesse filme (nem mesmo na série) não foi extirpada, somente adiada. Shinji, destruído psicologicamente, Kaworu morto, Rei, tentando descobrir sua própria identidade, Mari, personagem que não consta na história original, apesar de uma participação mais efetiva nesse capítulo, ainda tem que demonstrar a que veio e Asuka (fenomenal como jamais esteve na série original) assumindo a liderança do grupo sobre um deserto de destruição do que um dia já foi a humanidade.

Enfim, um filmaço, verdade que o dois é mais divertido, mas ainda assim esse terceiro episódio deu uma ótima continuidade a história trazendo novas dúvidas e especulações para os fãs da série que farão uma verdadeira masturbação mental de teorias que A+B será C até o lançamento do quarto e último capitulo dessa história que, a conhecer o currículo do diretor em questão, deixará mais dúvidas do que respostas.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

GHOST



Quando conheci a banda sueca Ghost ela já era famosa e sucesso de crítica na maioria dos sites que acompanho, mas nunca tinha me chamado a atenção, a maquiagem do vocalista e as vestimentas do resto da banda me fizeram pensar que se tratava de mais uma dessas bandas de Black Metal revoltadas com Deus e fazendo um som extremo com vocal gutural e uma bateria na velocidade da luz. Sorte minha que um amigo (valeu Oscar) me indicou a banda e me esclareceu do que se tratava, fiquei curioso, fui procurar e conheci uma das minhas bandas favoritas da atualidade.

Apesar de ser recente, estrearam em 2010, o Ghost faz um som que poderia muito bem ter surgido na década de 70, não há traços de modernidade aqui tudo soa bastante datado, embora seja muito bem produzido. O vocalista apesar da aparência externa, um papa satânico, canta com uma voz limpa e até mesmo lírica em alguns momentos. O som não tem palhetadas distorcidas, efeitos eletrônicos ou coisas do gênero, ao contrário, bebe de fontes como o rock progressivo, hard rock e o Heavy Metal dos anos 70, tendo até mesmo traços de pop, tornando a música agradável e acessível para todos os ouvidos, ou seja, não precisa ser um fã de metal pra ouvir Ghost.

O que talvez possa complicar ao possível ouvinte uma audição de Ghost são suas letras, descaradamente (e até mesmo ridiculamente) satânicas. Na verdade, são letras bem ingênuas, um crítico descreveu-as como algo que um adolescente rebelde poderia ter escrito pra irritar sua professora de religião. Aí é que está a diversão, o Ghost une talento e técnica em composições belíssimas que destoam completamente do discurso repugnante de suas letras e fazem tudo isso sem pretensão alguma. Não há discursos filosóficos ou exortações contra cristãos, não há críticas a Deus ou a Igreja, enfim é um satanismo “inocente” voltado ao mero entretenimento.

Ghost não é uma banda que se deva ouvir com pretensões intelectuais ou ainda em busca de algo novo, original, o que temos é uma volta ao passado com fortes influências de bandas como Black Sabbath, Coven, Blue Öyster Cult, dentre outras. Escute Ghost com o mesmo espírito com o qual você assistiria a um bom filme de terror, sem grandes pretensões, assim sendo será diversão garantida.

O Ghost tem atualmente dois discos lançados: Opus Eponymous de 2010, mais cru e setentista e Infestissuman de 2013, mantendo a identidade setentista, mas com adição de elementos do Pop, ambos excelentes, audições mais que recomendadas. Caso queria conhecer mais sobre esses discos e sobre a banda em si indico as excelentes resenhas de Ricardo Seelig da Collector’s Room.


Infestissuman: http://www.collectorsroom.com.br/2013/04/ghost-bc-critica-de-infestissumam-2013.html

Atualização
Comentário do Oscar Vareda: "- se o ghost fosse um filme, seria "the evil dead": bem feito, despretensioso e divertido pra caralho".

domingo, 7 de abril de 2013

RESENHA: Ōkami Kodomo no Ame to Yuki (おおかみこどもの雨と雪?)

Assisti ontem a noite esse incrível filme de animação japonesa Okami Kodomo no Ame to Yuki. O filme começa como um romance bobo entre uma jovem estudante universitária, Hana e Ookami, aquele cara bonito, meio desleixado e misterioso, como quem guarda um grande segredo. E o segredo era, o cara era um lobisomem, mas a garota não se importa e eles começam a viver uma história de amor.

Eu sei, mais parece uma das abominaveis histórias de Stephenie Meyer, mas não é, porque a história de verdade não começa aí, começa quando esse amor acaba gerando dois filhos, ambos lobisomens como o pai, e este acaba morrendo num acidente tolo, enquanto estava transformado em lobo. Hana encontra o corpo do seu amado sendo jogado na traseira de um caminhão de lixo como um cachorro de rua qualquer.

A partir de então Hana tem um desafio, criar seus filhos sozinha num mundo que não pode saber de sua existência e tendo que lidar com os institnto meio humanos meio caninos das crianças, a mais velha e extrovertida Yuki e o medroso Ame.

Acaba virando um filme sobre os desafios da maternidade e também sobre crescimento e maturidade, interessante ver como as crianças vão mudando conforme o passar do tempo, Yuki que parecia mais inclinada a ser um lobo que uma humana acaba se integrando cada vez mais a sociedade deixando para trás seu lado animal, enquanto Ame, que era o mais medroso, acaba escolhendo a vida selvagem de um lobo e se afastando cada vez mais do convívio humano.

Hana também acaba amadurecendo, ficando cada vez mais forte e confiante, enfrentando todas as adversidades de sua nada fácil vida sempre com um sorriso no rosto. Parece piegas, mas no filme tudo soa muito natural e a nossa simpatia por Hana é quase instantânea.

A animação é de alta qualidade, feita pelo Studio Shizou em parceria com o famosíssimo Madhouse (o mesmo de Death Note, Trigun, Claymore, dentre outros), pelo menos para os fãs de anime. O desenho dos personagens ficou a cargo de Yoshiuki Sadamoto, o mesmo que desenhou os personagens de Evangelion e a direção está a cargo de Mamoru Hosoda, que dirigiu alguns filmes de Digimon, não que isso seja lá um mérito, mas esse com certeza é seu melhor filme, dentre os que eu conheço pelo menos.

Recomendado, assista.